terça-feira, 27 de setembro de 2011

O HOMEN QUE VESTIU DE TUDO

David Bowie trocou tanto de figurino como de estilo musical ao longo da carreira. O mais espantoso é que, seja num macacão de lycra, seja numa calça de alfaiataria, manteve sempre a elegância



Até a sequela de um acidente que quase o cegou, aos 15 anos, tem estilo quando o assunto é David Bowie. Na disputa por uma garota de Brixton, o bairro negro londrino onde cresceu, ele e o amigo George Underwood deixaram a sala da escola para uma briga. O rival usava um anel que feriu o olho esquerdo de Bowie em um soco. Algumas cirurgias restabeleceram-lhe parte da visão, mas sua pupila ficou dilatada para o resto da vida. A conseqüência foi um olho azul e o outro castanho, que acabou virando uma de suas marcas registradas.



Lançador de tendências, camaleão do rock e inovador são alguns dos termos usados para descrever o trabalho de Bowie, mas é pouco. Nos últimos 40 anos, ele se transformou, na música, em um ícone para ícones. Na moda, ele também é reverenciado, copiado, reeditado e citado incontáveis vezes. O estilo “bowiesque”, em suas diferentes fases, já inspirou coleções de estilistas como Dolce&Gabbana, Alexander McQueen e Marc Jacobs.

Hoje, aos 64 anos, Bowie está recluso. Desde 2008 não grava um álbum com músicas inéditas. Sua última aparição pública foi em 2009, no Festival de Sundance, na estreia do filme Moon (Lunar), dirigido por seu filho Duncan, 38 anos. No livro Bowie — A Biografia, lançado no final do ano passado e escrito pelo jornalista Marc Spitz, o cantor diz que “algumas pessoas simplesmente não continuam para sempre como os Stones”. Há rumores de que ele esteja doente, outros de que simplesmente resolveu parar depois do infarto que sofreu durante uma turnê na Europa em 2004. “Talvez esse homem recluso seja mais uma de suas personas”, arrisca Spitz a certa altura da biografia.

Em 1969, quando lançou Space Oddity, Bowie abandonou o jeans surrado e desenhou um estilo nunca antes visto na história do rock. Naquele ano, ele conhece Angie Barnett, com quem foi casado durante oito anos e teve o primeiro filho, Duncan. Para ter uma ideia do espírito aberto do relacionamento entre Bowie e Angie, um dos biógrafos do cantor, o inglês David Buckley, diz que o casal se encontrou enquanto os dois “transavam com o mesmo cara”.

Nos anos 70, Bowie resolve barbarizar de vez. Surge na capa de The Man Who Sold the World usando um vestido longo, com um profundo decote e cabelos cacheados, numa pose lânguida. Para provocar, costumava aparecer nesses trajes nas entrevistas. O mundo ainda vivia a maldição do tie-dye e das calças boca de sino, herança dos hippies, quando Bowie criou seu personagem mais famoso, o andrógino Ziggy Stardust, estrela de The Rise and Fall of Ziggy and the Spider from Mars (1972). Seu mullet vermelho compunha com macacões em lycra coloridos, muita sombra azul e um raio desenhado no rosto. “Fora dos palcos sou um robô, no palco ganho vida. Por isso, prefiro me vestir como Ziggy do que como David”, disse em uma das entrevistas a Spitz.

Não foi o único caso de “você é o que veste” na vida de Bowie. Para o lançamento de Station to Station (1976), o personagem era The Thin White Duke. Calça de alfaiataria preta, coletes impecáveis, camisa branca e chapéu de feltro compunham seu look. O cigarro era o principal acessório do visual “homem sedutor”. Mas o que realmente seduziu Bowie nessa fase foi a cocaína. Para tentar se livrar das drogas, ele morou um tempo em Montreux, na Suíça.

No clássico exemplo do que um terno pode fazer na vida de um homem, Bowie estrela como par de Catherine Deneuve no filme Fome de Viver (1983). O vampiro que envelheceu até ser descartado pela belle de jour usava ternos bem cortados e alinhados ao corpo e olhava as mulheres com a cabeça levemente inclinada, para escapar do chapéu à La garçon que lhe escondia um olho. “Impressionante como um homem que se assumiu homossexual em determinado período da vida tinha tantas mulheres aos seus pés”, diz o biógrafo Buckley.

Nos anos 80, Bowie surge com Let’s Dance, seu álbum mais pop. Nessa mesma época, sedimentou a preferência por ternos, usando-os com camisas azuis de colarinhos brancos e suspensórios. Em 1992, ele se casa com a modelo somali Iman Abdulmajid. A supermodelo funcionou na vida do rock star como um “toque final” para seu refinamento. O casal mora em Nova York, cidade onde Bowie frequentou a Factory, ateliê do artista plástico Andy Warhol, um dos inspiradores de seu visual andrógino, do final dos anos 60. Em 2000, nasceu a filha do casal, Alexandria Zara, que em árabe significa “luz interior”. Alguns amigos, como o baixista Gail Ann Dorsey, que começou a tocar com Bowie há 15 anos, dizem que esse é o motivo da nova persona e da reclusão do rock star.

O truque do camaleão
Bowie usa ternos e acessórios clássicos, mas sempre com cortes, cores e detalhes atuais




1. Colete de lã Ricci & Collela. Suspensório Juisi by Licquor. Blazer de algodão e poliéster Aramis Menswear. Costume de sarja Stone Bonker,camisa de algodão Dudalina. Relógio de bolso de aço Technos,na New Look Time 6. Gravata-borboleta de seda Alfaiataria Camargo. Chapéu panamá Pralana,na TuA 8. Sapato de verniz Boss Black,

Tags: clássicos, david bowie

Nenhum comentário:

Postar um comentário