segunda-feira, 26 de setembro de 2011

É NOSSA CARA

Oskar Metsavaht, diretor criativo da grife Osklen, captou como ninguém o espírito brasileiro e o exporta para o mund



Oskar Metsavaht, diretor criativo e designer da grife Osklen, está à frente de uma equipe de 800 pessoas, embora nunca tenha estudado moda ou design. “Fiz medicina, e todos perguntam como passei de médico para a moda, como se fosse algo distante. Mas a moda veste o corpo humano. E médico entende mais que ninguém de corpo”, diz.

Ele chega ao nosso encontro, pontualmente, de preto da cabeça aos pés. Cashmere gola V — “Todo homem deve ter ao menos um no armário” — e calça seguindo o contorno do corpo, criação própria. Enquanto caminha pela Rua Oscar Freire, em São Paulo, depois de conferir o balanço diário de sua loja na cidade, um grupo de fashionistas japonesas o aborda, elogia o desfile de lançamento da coleção de inverno que aconteceu no dia anterior e diz, com um inglês quase incompreensível, que a loja Osklen de Tóquio “rocks”. Sim, Oskar abriu filial na cidade. E também em Nova York, Roma e Milão. Ele não fala em números, mas afirma que, em 2010, vendeu 20% mais que no ano anterior. Acaba de ganhar, ainda, o Luxury Awards, um dos prêmios mais importantes da indústria do luxo mundial.

“Crio pensando naqueles que têm meu jeito de pensar e viver. Talvez um belga ou um japonês vejam as referências dos mesmos livros, filmes, exposições que eu. Podem ser mais a minha tribo que o meu vizinho no Rio de Janeiro”, diz. E é dos japoneses que ele gosta mais. “São o povo mais elegante do mundo, donos de uma delicadeza de gestos e equilíbrio admiráveis, aos quais muitos ocidentais não dão o menor valor”, fala Oskar baixinho, com voz firme, à moda nipônica.

Filho de professora de história da arte e filosofia e de pai médico, desde cedo Oskar fuçava os magazines dela, Vogue e afins, e as revistas dele, como NATIONAL GEOGRAPHIC. Nos anos 70, desenhava camisetas e bermudas que via nas revistas de surfe. Desde lá, veste-se com o que pensa. “Vejo elegância tanto em um caipira como em um lorde londrino, em um surfista ou em um nerd”, diz. Hoje, o gaúcho mora no Arpoador e o calçadão é seu tapete vermelho. Seus amigos fazem parte da aristocracia carioca: Lenny Niemeyer, Carolina Ferraz e, ainda, Testino, Mick Jagger… A lista é enorme. Daria uma boa festa. E vez em quando dá. Ninguém declina seus convites.

Quer dizer que nós, brasileiros, não temos elegância? “Temos de nos entender melhor e ver quais são os nossos valores, modos e significados para formar uma identidade própria. Se somos uma mistura de culturas, que criemos um blend delas, adaptadas ao nosso clima e às nossas necessidades”, propõe. “Podemos copiar o que europeus, orientais, africanos e índios têm de melhor, mas não tentar ser europeu a 40 graus, orientais no Carnaval, africanos gingando em uma recepção formal”, alfineta.

Casado com Nazaré Almeida Braga, pai de três filhos, Oskar defende o movimento “brazilian soul”. O que vem a ser isso? “A expressão de nosso espírito, com uma estética original e linguagem universal. Oscar Niemeyer, por exemplo, é um Bauhaus, mas com brazilian soul. Gisele Bündchen também. Tem um biótipo europeu, rígido, mas um balanço no andar, cheio de brazilian soul. A bossa nova é jazz com brazilian soul. É isso que as pessoas procuram quando vêm ao Brasil. O estrangeiro não quer comprar nossos produtos, ficar em nossos hotéis, ir aos restaurantes. Ele quer experimentar o nosso way of life.” Uma vida e uma alma que Oskar soube captar e exportar como ninguém.

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